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Setor da construção pesada encerra o ano com avanço de 30%, mas vê cenários de 2023 com preocupação devido à falta de limite de gastos do governo federal

Mesmo em conjuntura difícil, devido à falta de solução por parte do DNIT e do DAER para o desequilíbrio econômico-financeiro de contratos de obras e serviços de engenharia, causado pela expressiva variação no preço de insumos, as empresas do setor da construção pesada do RS devem encerrar este ano com um incremento de 30% no volume de negócios, em comparação ao ano anterior, segundo Rafael Sacchi, presidente do SICEPOT-RS.

“Apesar do esforço do governo do estado, que aplicou, por meio do DAER, cerca de R$ 900 milhões na infraestrutura em 2022 , ainda assim muitas empresas devem entrar 2023 em  extremas dificuldades  dado ao fato de não reverterem os desequilíbrios”, relatou o dirigente.

Para surpresa do setor, observou Sacchi, a oscilação de insumos continua ocorrendo. Exemplo é o preço do aço praticado por siderúrgica nacional, que divulgou previsão de aumento de 10% para janeiro de 2023. “ Isso é inaceitável e somete nos causa indignação, ainda mais quando declaram em seus balanços lucros exorbitantes”, pontuou.

Em meio às adversidades, Sacchi destaca a iniciativa da prefeitura de Porto Alegre, que publicou  instrução  de serviço com critérios para o reequilíbrio econômico-financeiro de contratos administrativos, o que poderá servir como uma orientação para as demais prefeituras. “Trata-se inegavelmente de um avanço, o que não tivemos nem da parte do governo federal, nem do estadual”, diz Sacchi. E completa: “ Em nível federal, as empresas travam disputa judicial com o DNIT por perdas na pandemia, enquanto no estado o assunto não avançou depois de o DAER ter enviado minuta sobre o assunto à PGE”.

Uma grande insegurança jurídica, em nível federal, é o que Sacchi prevê para 2023, diante do anúncio de que o governo deverá extrapolar o orçamento, mediante a PEC da Transição, a qual não sinaliza a origem dos recursos com os quais pretende bancar os gastos. “ A PEC da Transição é extremamente perigosa, simplesmente porque não se pode furar o texto de gastos sem que haja um planejamento rigoroso para a recuperação do equilíbrio fiscal“, pondera Sacchi.

“São por razões como essa que os investidores deixam de desenvolver seus projetos no País, dado o receito de eventual rombo das contas públicas que derivam em calotes”. Além dessa insegurança, Sacchi também admite a preocupação com novo ciclo inflacionário e as dificuldades de sua reversão. “Todos sabemos das dificuldades de domar a inflação quando ela recrudesce”.

Independentemente desse tema, o SICEPOT-RS antecipou-se nos pleitos para as obras federais no estado, tendo encaminhado ao deputado federal Paulo Pimenta (PT), integrante do grupo técnico da infraestrutura durante a transição, ofício assinado pelo seu presidente pleiteando o valor de R$ 2 bilhões para que sejam concluídas as obras da BR-116, até Pelotas,  da modernização da BR-116 que liga O Vale dos Sinos à região metropolitana, duplicação da BR 290 e manutenção de diversas rodovias federais do RS.

No âmbito do Estado, Sacchi é otimista e lembra que com a privatização da Corsan, o Executivo deverá contar com recursos suficientes para bancar as obras de manutenção e conservação de rodovias, de acessos municipais e ligações regionais. “Ainda existe pendência judicial no caso da venda das ações da Corsan, cujo controle majoritário era do Estado, para o setor privado, mas isso é uma realidade e significa a disponibilidade de R$ 4 bilhões para investimentos em infraestrutura”, diz o líder do setor da construção pesada do RS, que destaca a continuidade administrativa.
“Com a reeleição de Eduardo Leite para o governo do Estado, foi assegurada, pela primeira vez na história do RS, a continuidade administrativa, e isso é um sinal positivo para o setor dada a posição do Executivo sobre concessões e investimentos em infraestrutura”, diz Sacchi.

Ainda em processo de recuperação da capacidade instalada derivada da pandemia, o setor enfrenta a falta de profissionais qualificados em várias áreas de atuação, confirma Sacchi. “O fato é que, em decorrência da covid, houve uma evasão desses profissionais, desafio que temos de enfrentar a fim de atender a demanda de obras prevista para 2023. Existe uma competição acirrada por profissionais mais qualificados, na medida em que o engenheiro de hoje é bem distinto do engenheiro do passado, dada a exigência de profissionais versáteis que concilia o conhecimento da engenharia com o viés administrativo e gerencial”. 

Em relação ao nível de emprego da construção pesada gaúcha, Sacchi relata um saldo positivo em 2022, com cerca de 15 mil trabalhadores diretos, perfazendo um total de cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos. “Poderíamos ter crescido mais não fosse a retração dos investimentos em nível federal”, lamenta.