O Brasil deverá encerrar o ano com investimentos em infraestrutura no equivalente a 1,71% do PIB, o que representa uma queda de 0,2 pontos percentuais em comparação ao ano anterior. Com investimentos em anos recentes de menos 2% do PIB, existe uma necessidade de recursos de 3,6% do PIB para permitir um processo mínimo de modernização ao longo das próximas duas décadas, na suposição de um potencial de crescimento não inflacionário na média de 1% para os próximos 20 anos, afirma o economista Cláudio Frischtak, sócio gestor da Inter. B – Consultoria Internacional de Negócios, do Rio de Janeiro.
“ Com um potencial alargado por reformas que impulsionassem o PIB potencial para ao menos 2%, as necessidades de investimento chegariam a 4,2% do PIB. Em ambos os casos, ainda estamos distantes”, pontua na abertura da 21ª edição da Carta de Infraestrutura, que apresenta a trajetória recente dos investimentos no setor.
De acordo com ele, frente a uma brecha de investimentos de 2% a 2,5% do PIB, o esforço maior será necessariamente do setor privado, ainda que haja necessidade de se ampliar os investimentos públicos, hoje em torno de 0,6% do PIB para pouco acima de 1% do PIB.
Já o investimento do setor privado seria da ordem de ao menos 1,5% do PIB, tendo possivelmente de chegar em até 3,1% do PIB. “Cabe enfatizar que ampliar os investimentos públicos irá demandar com toda a probabilidade uma reforma do Estado, criando espaço fiscal de forma responsável, rechaçando tentações populistas”, assinala.
Frischtak enfatiza, no entanto, que não há como avançar sem perseguir uma agenda centrada em dois grandes temas: melhoria da governança dos investimentos públicos e da institucionalidade do ambiente de negócios no país.
“Patrimonialismo com a coisa pública e clientelismo orçamentário, assim como decisões do executivo com frágil base técnica, geram desperdício e má alocação de recursos públicos”, adverte.
“O país já está maduro e informado para não aceitar formas atrasadas de fazer política pública. Ao mesmo tempo, o ambiente de negócios necessita não apenas de maior segurança jurídica e previsibilidade regulatória, mas aderência a regras universais. Isso passa pela reconstrução reputacional do país, no contexto de uma economia aberta, competitiva e sustentável”.
Rodovias
Os investimentos no segmento rodoviário se expandiram 27,2% em termos reais em
2021 e projeta-se um aumento de 2,9% em 2022. O avanço dos investimentos relacionados à 4ª
rodada de concessões foi responsável pelos ganhos dos investimentos privados em 2021 (27,5%,
em termos reais frente a 2020) e ainda se refletem em 2022 (12,5%, em relação a 2021). Quanto
aos investimentos dos governos estaduais, estes foram ampliados em 68,5% em 2021, num
contexto atípico de alta na arrecadação e controle das despesas com pessoal, e mantidos
relativamente estáveis em 2022, e em contraposição à queda nos investimentos federais
realizados em 2021 (22,6%) e nos gastos autorizados para 2022 (4,1%).
Mobilidade Urbana
Projeta-se um aumento de 20,9% dos gastos em mobilidade urbana em
2022, por conta principalmente das recentes concessões no sistema metroferroviário de São
Paulo. A futura privatização de empresas federais que operam no setor (CBTU e Trensurb) irá
estimular uma discussão da importância da mobilidade, e do imperativo de ampliar os
investimentos e melhorar sua alocação. É fundamental melhor compreensão de governantes, e da
própria sociedade e seus representantes, do impacto adverso da baixa mobilidade sobre o bem estar da população, a produtividade dos trabalhadores, o valor criado da terra urbana e a própria
competitividade das cidades
Com mais de 120 publicações (dentre livros editados, artigos acadêmicos e relatórios de pesquisa nas áreas de inovação e desenvolvimento industrial, regulação de mercados e política de competição, e infraestrutura e desenvolvimento econômico), Frischtak é membro de vários conselhos institucionais e empresariais, incluindo o Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria e da Federação de Indústrias do Rio de Janeiro, o Conselho da Associação Brasileira de Operadores Logísticos e o Conselho de Administração da Wilson, Sons.